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Confessionais

Pacto Educativo Global: um chamado para transformar o mundo

Publicado em 20 de junho de 2024Atualizado em 02 de setembro de 2024.

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pacto educativo globalO Poliedro acredita em uma educação que vai além das matérias tradicionais. Afinal, escola também é lugar de aprender a viver. É nesse ambiente que a criança constrói suas primeiras relações fora do círculo familiar, o que impulsiona o seu desenvolvimento emocional, social e ético. Dessa forma, ao valorizar uma educação que ultrapassa o conteúdo para também fortalecer princípios, a escola favorece a formação de cidadãos mais conscientes, responsáveis e comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa.

Acreditamos que, ao compartilhar conhecimentos, contribuímos com o desenvolvimento contínuo de escolas rumo a uma experiência educativa mais completa. Por isso, convidamos especialistas em educação para criar uma série de conteúdos valiosos para a comunidade de escolas confessionais. Este é o primeiro deles, com a participação de Sonia de Itoz.

Sonia é membro e pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Formação Educação e Religião (IPFER) e coordenadora de Pastoral Escolar e Ensino Religioso do Colégio Emilie de Villeneuve em São Paulo (SP), e trouxe sua rica visão sobre o Pacto Educativo Global.

Acompanhe a seguir o conteúdo da especialista na íntegra.

 

A convocação do Pacto Educativo Global

Em 12 de setembro de 2019, o Papa Francisco lançou a proposta de um novo Pacto Educativo Global e relançou o mesmo convite no dia 15 de outubro de 2020. Francisco conclamou toda a comunidade internacional para unir-se em torno de um novo pacto sobre a forma de pensar, propor, elaborar e fazer educação. Convocou e propôs, o Papa, a todos os representantes da Terra, um novo compromisso comum, tendo como objetivo reconstruir um pacto educativo global, ou uma aliança que realmente se proponha e envolva a fazer “um novo céu e uma nova terra”, para que seja renovada em “todas as coisas” (Apocalipse, 21,1;5). Essa iniciativa não foi uma ideia nova e repentina, mas a concretização de uma visão e de um pensamento que Francisco manifestou várias vezes e que se coloca, principalmente, na mesma concepção e formulações das instruções formuladas na carta encíclica Laudato si’.

O Papa convidou a Igreja inteira, também suas instituições, como as escolas de identidade católica, a se colocar “em saída” missionária, como estilo a ser adotado em qualquer proposta, atuação e atividade que possa se realizar. O convite foi dirigido “a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo”. Este é um anúncio que “não pode excluir ninguém” (EG – Exortação Apostólica Evangelii Gaudium –, nº 23), diz o Papa Francisco.

Por Igreja em saída entende-se uma comunidade que se envolve e, intencionalmente, é capaz de intervir em todos os processos da vida pessoal, social, cultural, religiosa e todas as demais condições e situações. Ressalta o Papa que, depois de ter analisado os problemas do mundo e da cultura atual, “sentimos o desafio de descobrir e transmitir a ‘mística’ de viver juntos, misturar-nos, encontrar-nos, dar o braço, apoiar-nos, participar nesta maré um pouco caótica que pode transformar-se numa verdadeira experiência de fraternidade, numa caravana solidária…” (EG, nº 87).

Foi um convite para colocar o olhar sobre, e perceber, tratar, cuidar e sanar, as fragilidades de todos os povos e situações do planeta Terra, enfim, do mundo concreto em que estamos situados e vivemos. Foi um convite aberto, não apenas aos cristãos, mas, conforme Francisco, dirigido a todos os homens e mulheres da terra. Percebe, e potencializa, o Papa que a educação, no momento e nas condições atuais, torna-se prioritária, já que é o território e espaço concreto do educar e do educar-se, e somente esta poderá fazer a mais contundente diferença, ao propor-se a ajudar e levar ao protagonismo direto e consciente na construção do bem comum e da paz.

 

O projeto

Na carta encíclica Laudato si’ (2015), que foi atualizado no contexto da Exortação Apostólica Laudate Deum (2023), o Papa Francisco lembra que “a educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza” (n. 215). Nunca como o que vivemos na realidade de hoje e na situação de agora, num contexto totalmente dilacerado por contrastes sociais, sem uma visão conjunta, e de tantas catástrofes ambientais e de falta de humanismo, é urgente uma profunda e eficaz mudança de rumo.

É preciso que se faça uma educação que seja, na sua totalidade, integral e inclusiva; que seja capaz de uma pertinente, intrínseca e plena escuta paciente; e de um profundo diálogo construtivo, onde se garanta a unidade nas diferenças e nos diferentes, mesmo que seja mediante tantos conflitos e divisões. Para este fim, é altamente desejável, conforme o Papa, que se desencadeie e se faça, intencionalmente, e sejam colocados em ação, processos de partilha no intuito da busca constante de transformações, com todas as possíveis iniciativas, para permitir às gerações futuras a construção de um futuro de esperança e de paz.

A necessidade e a proposta colocada pelo Papa Francisco para reconstruir um novo Pacto Educativo Global é a ideia de que

[…] qualquer mudança de época que estamos atravessando requer um caminho educativo, a constituição de uma vila da educação, que gere uma rede de relações humanas e abertas. Tal vila deve colocar no centro a pessoa, favorecer a criatividade e a responsabilidade por um projeto a longo prazo e formar pessoas disponíveis para se colocar a serviço da comunidade. Necessita, pois, dum conceito de educação que abrace a ampla gama de experiências de vida e processos de aprendizagem, e que consinta aos jovens, individual e coletivamente, desenvolver a sua personalidade. A educação não se esgota nas aulas, mas é garantida principalmente respeitando e reforçando o direito primário da família a educar, e o direito das Igrejas e das agregações sociais a amparar as famílias e colaborar com essas na educação dos filhos” (Papa Francisco, discurso em 9 de janeiro de 2020).

A proposta, o projeto do Pacto Educativo Global engloba e convida todos a um esforço conjunto, um verdadeiro mutirão, objetivando concretamente a transformação da realidade de mundo vivida hoje. É uma convocação para uma ação conjunta mundial e quer abarcar o maior número possível de ações e compromissos de sujeitos concretos, sejam famílias, escolas, governantes, instituições, associações em geral, movimentos sociais, religiões, academias universitárias, as diversas áreas das ciências, as igrejas, empresas, profissionais de quaisquer áreas e categorias, crianças, jovens, adultos e todos os demais.

Dessa forma, é uma convocação para que todos que têm um nível de responsabilidade, com uma forma, tipo ou modelo de educação, conscientemente contribuam e façam uma educação para que o mundo seja melhor, mais digno e esperançoso para toda a vida presente no planeta Terra. A educação, pelo bem comum, tanto da humanidade, como do planeta, torna-se papel de cada sujeito, que deve contribuir a partir de sua ação e atuação, ou da própria missão que desenvolve a serviço da sociedade.

 

A abertura ao outro como fundamento para um outro Pacto Educativo Global

O Papa propõe um compromisso de todos os indivíduos e de todas as instituições por uma nova forma de educar, razão da proposta de um Pacto Educativo Global. É preciso dizer e saber que o Papa não está propondo uma ação educativa, tampouco convida a elaborar um programa ou apenas um projeto educativo, mas concentra-se num pacto, ou seja, numa outra aliança educativa.

Diz ainda o Papa que para executar tal tarefa, para que possa haver um pacto, de fato, deve haver duas ou mais pessoas diferentes que se comprometam por uma causa comum. Há um pacto quando, mantendo as recíprocas diferenças, opta-se por colocar as próprias forças a serviço do mesmo projeto. Há um pacto quando somos capazes de reconhecer no outro, diferente de nós, não uma ameaça contra a nossa identidade, mas um companheiro de viagem, para que “se descubra nele o esplendor da imagem de Deus” (Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus Vivit, nº 165).

Nesta perspectiva, o termo aliança, segundo a tradição hebraico-cristã, evoca toda a questão e articulação do vínculo, e aqui especificamente do vínculo de amor estabelecido entre Deus e o seu povo. Amor que em Jesus derrubou o muro entre os povos, restabelecendo a paz (Ef. 2, 14-15). A partir dessa base é que o Papa convida e busca procurar companheiros de viagem no caminho da educação, por isso, mais que propor programas a seguir, convida a estreitar entre todos uma aliança que valorize a unicidade mediante um compromisso contínuo na formação de novos tempos, de novos sujeitos, de novas relações, de novas perspectivas.

Assim, o primeiro pressuposto para um novo Pacto Educativo Global passa contundentemente por respeitar a diversidade, o que faz com que a educação primariamente se faça pela forma de reconhecimento e indispensabilidade de cada contribuição.

Todos temos no coração o bem das pessoas que amamos, em particular das nossas crianças, adolescentes e jovens. De fato, sabemos que depende deles o futuro desta nossa cidade. Portanto, não podemos não ser solícitos pela formação das novas gerações, pela sua capacidade de se orientar na vida e discernir o bem do mal, pela sua saúde não só física, mas também moral. Educar, porém, nunca foi fácil, e hoje parece tornar-se sempre mais difícil. Sabem-no bem os pais, os professores, os sacerdotes e todos os que têm diretas responsabilidades educativas. Fala-se por isso de uma grande “emergência educativa”, confirmada pelos insucessos com os quais com muita frequência se confrontam os nossos esforços para formar pessoas sólidas, capazes de colaborar com os outros e dar um sentido à própria vida (Pacto Educativo Global, Instrumentum Laboris, Introdução, p. 2-4).

A educação que quer e representa o Papa, e propõe o Pacto Educativo Global, requer desde agora uma educação capaz de pensar o hoje, as novas gerações e todo o ambiente climático para que aconteça um outro futuro possível e melhor para toda humanidade e o planeta Terra. E, ainda conforme o Papa Francisco, “pensar na educação é pensar nas gerações futuras e no futuro da humanidade. É algo profundamente arraigado na esperança e exige generosidade e coragem”. Ou seja, trata-se de uma educação que seja capaz de integrar a linguagem da cabeça — o pensar — com a linguagem do coração — o sentir — e a linguagem das mãos — o agir.

 

Referências

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html. Acesso em: 30 maio 2024.

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL CHRISTUS VIVIT. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20190325_christus-vivit.html. Acesso em: 30 maio 2024.

FRATELLI TUTTI. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html. Acesso em: 30 maio 2024.

LAUDATO DEUM. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/20231004-laudate-deum.html#:~:text=%22Laudate%20Deum%22%3A%20Exorta%C3%A7%C3%A3o%20Apost%C3%B3lica,de%20outubro%20de%202023)%20%7C%20Francisco&text=1.,c%C3%A2nticos%20e%20os%20seus%20gestos. Acesso em: 30 maio 2024.

LAUIDATO SI’. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html. Acesso em: 30 maio 2024.

PACTO EDUCATIVO GLOBAL, INSTRUMENTUM LABORIS. Disponível em: https://www.educationglobalcompact.org/resources/Risorse/instrumentum-laboris-pt.pdf. Acesso em: 30 maio 2024.

 

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  • Gestão Escolar

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